sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CROAC

No meu sonho estranho, eu me sinto bem. Não há mais vergonha, eu não sou mais tímido. Consigo pronunciar o que penso facilmente. Eu ando com uma postura digna. Sem medos. Sem receios. É noite. O clima é agradável. Eu estou de bom humor. As pessoas ao meu redor aparentam aproveitar a noite, assim como eu. As calçadas são largas, assim como o asfalto e as lojas. Anda-se pela rua com tranqüilidade. Não há pressa. Encosto em um muro, algumas pessoas andam de skate. A luz amarela-alaranjada é acesa, pois começa a escurecer. Garotas passam por mim. Não olham. Seguem para aonde for, menos aqui. Um cheiro agradável viaja pelo ar, até se fazer notar pelo meu nariz. Resolvo caminhar mais um pouco. Acabo entrando em um parque. As luzes lentamente vão ficando para trás, enquanto meus passos fazem cada vez mais barulho. Sinto a umidade da grama em meus pés. Começa a ventar forte. Seres passam ligeiramente dentre as árvores. O escuro é total. Eu avisto um rio. Toco-o com minhas mãos. A civilização parece não mais existir. O céu é muito azul. Avisto luzes coloridas piscando em algum ponto distante dali. Piso em madeira envelhecida. Ela quebra e faz barulho. Eu me sinto só. Parece que sou observado. Encontro uma barraca abandonada, com luzinhas penduradas em um fio. Dentro da barraca há um cobertor e uma lanterna junto de um livro antigo. Eu me deito e adormeço.

Acordo com as roupas bagunçadas. Sinto um perfume conhecido. Inalo o máximo que consigo. Ela esteve aqui. Passou a noite comigo. Eu sei. Tento abrir o zíper da barraca. Não consigo. O perfume me enlouquece. Eu continuo tentando inalar o máximo que posso. Sinto o espaço na barraca diminuir. Ouço vozes do lado de fora. O perfume ri de mim. Eu já não tenho mais espaço. A lona da barraca me espreme. Mal consigo respirar. A risada fica mais forte. Ensurdecedora. E continua a gargalhar enquanto a barraca me engole. Eu mergulho profundamente nas minhas lembranças e não encontro ninguém. Não acordo mais do meu sonho.


O silêncio impera no ambiente, a não ser pelo barulho de um sapo e da barraca fazendo a digestão.