terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os Melhores Filmes da Década de 2000


Já está lá no site Cine Revista, a minha lista dos melhores filmes da década. Foi com muito prazer que aceitei o convite do meu amigo, Adriano de Oliveira. Crítico de cinema e criador do site, Adriano vêm mantendo o site há 6 anos com críticas construtivas e opiniões bem elaboradas. Uma grande dica pra quem gosta de cinema.

A elaboração da lista foi complicada. Porque sempre algum filme bom vai ficar de fora. Mas a fiz com o pensamento de que esses sejam talvez os essenciais.

Link para a lista: http://www.cinerevista.com.br/artigos/ListaDecada00RLubisco.htm

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Criatura perdida pelos cantos vive

Folha de alumínio molhada. Ele a vê sob a superfície da pia, e não dá a mínima bola. São 05h53min da manhã, o dia está nascendo, o sol está nascendo, e ele está morrendo. O macaco perdido em sua jaula, na transição de madrugada para dia. Tudo que pertencia a ele acabava ficando para trás, e só retornava quando tudo escurecia. Sua mente voltava a funcionar como o motor de uma máquina que tem hora pra começar a trabalhar. E era assim com ele. Perdido no imenso vazio de seu apartamento, na madrugada de Porto Alegre. Mas poderia ser em qualquer lugar. Imagino que até mesmo se ele estivesse em uma missão espacial, dentro de um foguete em direção a lua, seria a mesma coisa. Ele olharia para os buracos negros por toda a extensão de um céu preto. Infinito e póstumo. Não estaria mais isolado do que neste mundo habitado por milhões de pessoas que nascem todos os anos, e crescem todos os anos, e se tornam animais que ele sempre acaba conhecendo. Até porque as pessoas realmente interessantes não existem à sua volta. Parece até algum tipo de maldição. Seria algo que ele fez em alguma vida passada, nos primórdios do universo? Por que essa ligação com o Universo, em geral?!


Não, não adianta. Ele não sabe! Ele sente, mas não sabe. Sente seu corpo flutuar por corredores negros recheados de estrelas brilhantes iluminando o caminho infinito. O próprio macaco no espaço; viajando por entre várias formas de vida e sons. Principalmente sons, que ele não reconhece, mas que sempre acabam lembrando-o de alguma música que ele escutou enquanto ficava trancado no seu apartamento na Rua Teodoro Piñero. Viveu tantos anos lá. Lembra de viver sentado em cima das caixas de cerveja que tomava toda noite pra agüentar a sua vida tão sem graça. E ele por uma crise psicológica interna, saía pouquíssimo de casa. Muito pouco mesmo. Então o lixo acabava ficando dentro da casa dele mesmo. Mais propriamente na sala, onde ele ficava a maior parte do tempo. Colchão, sofá, computador, TV, vídeo-game, livros, cd’s, dvd’s. Ele trabalhou durante muito tempo. Mas cansou de manter contato com outros humanos, então juntou dinheiro para poder ficar hibernando em casa durante alguns meses.


Esses poucos meses acabaram durando dois anos e meio.



Uma bela madrugada, fria e seca, mudou completamente a vida dele. Porque no meio de toda aquela sujeira, ele encontrou um guarda-chuva. Logo ele, que nunca gostou de usar guarda-chuva. Fazia tanto tempo que ele não via um guarda-chuva, que ficou tateando o negócio preto até perder a curiosidade. Quando isso aconteceu, ele o abriu, ali, no meio da sala mesmo! Uma madrugada fria e seca, que ventava muito. E quando ele nem prestava atenção ao vento do lado de fora da sua janela, sentiu uma sucção vindo de cima. Notou que logo em cima dele não havia mais telhas, muito menos forro. Um enorme buraco mostrava a ele a lua, as estrelas, e aquele céu azul escuro negro, de uma boa madrugada de inverno no Rio Grande do Sul. Sem mais nem menos, começou a subir. Subiu, subiu, subiu e foi indo. Fazia tanto tempo que ele não saía pra dar uma volta, que resolveu acender um cigarro pra aproveitar o passeio. Quando estava chegando perto de uma nuvem, cruzou com um macaco que usava um chapéu, daqueles de festinhas de aniversário infantis. O macaco flutuava em uma calota de carro, e ia em direção oposta à que ele estava indo. Ele até levantou brevemente a mão para cumprimentar o macaco, mas não obteve qualquer reação.


Imaginou que o macaco estava feliz. Assim como ele estava.

E foi por aí, subindo, subindo, subindo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Inter - Bi Campeão da Libertadores da América


Sou colorado desde que eu me lembro de começar a assistir futebol. Não sei ao certo quantos anos eu tinha, mas é por volta dos meus 6 ou 7 anos de idade. Nunca fui aquele torcedor de freqüentar o Beira-Rio todo domingo, porque a minha mãe apesar de ser colorada, nunca foi muito de ligar para futebol, porque meu pai faleceu quando eu ainda era muito pequeno, sendo que eu nem sei ao certo se ele era colorado ou gremista, e a minha irmã mais velha era gremista. E é por essas e outras coisas, que eu não sei ao certo dizer por que sou colorado. Só sei que desde a primeira vez que vi aquela camisa vermelha, com o S, o C, e o I se entrelaçando e formando o símbolo do Inter, eu vibrava. Sempre gostei da cor vermelha na camiseta, tinha prazer de ficar em casa assistindo os Gauchões, dizer que era colorado, e dormir de noite imaginando que um dia eu ainda jogaria naquele time. Nessa época da minha vida, com 9 anos de idade, o Inter não ganhava nada. Eu nunca tinha visto o time levantar uma taça. Em 1992, quando o Inter ganhou a Copa do Brasil, eu tinha apenas 5 anos, e não me lembro de absolutamente nada. Não tinha explicação eu torcer pelo Inter, porque ninguém nunca me encorajou a isso, nem me levou ao estádio para eu ver um jogo, não era o time que ganhava os campeonatos, nada. E ainda assim, eu me tornei colorado por natureza. Por grandeza.


Com 10 anos de idade, fui morar em São Paulo. E foi justo nesse ano, em 1997, que eu vi pela primeira vez o Inter levantar uma taça. O Gauchão de 1997. 1x0 em cima do Grêmio, gol do Fabiano se não me engano. Um golaço. Eu lembro de estar vendo de pé o jogo, e quando saiu o gol, eu alucinado dei um berro e um tapa na cara da minha irmã. Foi automático. Foi ridículo eu fazer isso, claro. Mas não foi por mal, foi por emoção. Eu não acreditava no que via. Meu time ia ser campeão Gaúcho e isso era a melhor coisa do mundo pra mim naquela época. Eu completei a minha coleção de mini-craques da Coca, em virtude da Copa de 1998, e ficava brincando com eles no chão com uma mini-bola, e fazia tabela de campeonato gaúcho, campeonato brasileiro, copa do Brasil. O Inter sempre era o campeão de todos eles de forma invicta, não preciso nem falar.

Em 1999, o Inter fez aquele jogo histórico com o Palmeiras no Beira-Rio. Uma vitória nos livrava do rebaixamento para a Segunda Divisão do Brasileiro. E não era uma partida a toa para o Palmeiras, que lutava pela classificação a próxima fase. Esse jogo eu vi trancado no quarto, sozinho, ajoelhado do lado da cama. E quando o Dunga fez aquele gol, eu não cansava de chorar e sorrir, tudo ao mesmo tempo, querendo que o jogo terminasse o mais rápido possível. E lá estava meu Inter, me orgulhando por não ter caído para a Segunda Divisão.

E morar em São Paulo e torcer para o Inter não era fácil. Na escola eu ouvia todo o tipo de zoação. Que o time de Porto Alegre era o Grêmio, que o Inter nunca tinha ganhado nada, que os títulos importantes eu nem era nascido para ver, que o Clemer no gol era um frangueiro, que eu tinha que torcer pra times de verdade que nem Corinthians, Palmeiras, São Paulo. E eu defendia o meu Inter, como podia. Porque esse meu sentimento pelo Inter, sempre foi algo inexplicável. Pra mim era como se fosse um irmão. Era o meu amigo. Era quem mais me deixava feliz e por quem eu mais me preocupava. Time de futebol não nos dá o sustento nem nada, mas o que sentimos por ele não poderia jamais ser comprado. Vêm do fundo do coração e quando ele ganha choramos de alegria, comemoramos. Quando perde, lamentamos e a vida fica um pouco mais nublada.

Resumindo: crescer e torcer pelo Inter, nos anos 90, foi uma prova de carinho pelo clube. Foi uma amostra involuntária de confiança na camisa vermelha histórica, de um passado de tantas glórias, que eu sequer tinha visto, mas sabia de cor. Era ter orgulho de poder ver, mesmo que fosse pela TV, o Beira-Rio, cheio de colorados apoiando, torcendo, e comemorando. Eu prestava atenção em cada faixa estendida no Estádio, e em como éramos todos apaixonados por este time.


Eu me lembro de ter um Cd com algumas músicas do Inter. E eu ficava cantarolando elas sozinho, antes dos jogos, sozinho no quarto. Era praticamente um ritual. Lembro de uma que era mais ou menos assim:

“Eu te amo, Internacional


Encanta o mar vermelho colorado


Joga bonito, dá show de bola


Mostra tua garra, ninguém segura, teu futebol


Sou Camisa 12


Vou jogar com você


Cantando, chorando com muita emoção


Que nasce do meu coração


Te amo, Te amo, Internacional


Te amo, Te amo, Internacional”

E assim os anos foram passando, em 2005 o Inter foi roubado no Campeonato Brasileiro e acabou ficando com o Vice-Campeonato. No começo de 2006, eu voltei a morar em Porto Alegre. O Inter ia disputar a Libertadores, coisa que eu nunca tinha visto. E não sei por quê, e eu acho que todo colorado deve ter sentido a mesma coisa, mas a sensação que eu tinha era que de alguma forma as coisas dariam certo. Mesmo antes de começar a Libertadores. Era a LIBERTADORES. Campeonato que eu sempre vi os times dos meus amigos disputarem, mas nunca o meu.

E como todos sabem, nós fomos campeões. E parecia inacreditável. Meu Inter. O Hino do meu time tocando sem parar, com o símbolo na tela, e os dizeres: INTER, CAMPEÃO DA COPA LIBERTADORES 2006. Claro que com muitas emoções nesse meio tempo, foi difícil, suado, do jeito que tinha que ser. Foi emocionante. Um título merecido e grande. Como nós.

No fim do ano, conquistamos o Mundial. Quando NINGUÉM além de nós acreditava. Ganhamos do todo poderoso Barcelona, do gremista Ronaldinho Gaúcho. Um gol do Gabiru e a expressão incrédula do Ronaldinho. Eu vi esse jogo em casa, e quando saiu o Gol, saí batendo na porta do apartamento e gritando, pulando, gritando mais um pouco na janela. Saí pra comemorar com milhares de colorados que foram as ruas e festejavam uma vida inteira de amor por um clube. Uma história de glórias em seu passado, e que agora eram revividas de forma muito maior.

Sempre revejo os jogos da Libertadores e do Mundial no Youtube, e sempre me arrepio e encho o meu peito cada vez mais de orgulho. As narrações dos gols, as comemorações, as entrevistas, as matérias, tudo. Tudo mesmo. Tudo relacionado as nossas conquistas e batalhas.
E nesta semana que passou, o Inter conquistou o Bi Campeonato da Libertadores. Coisa que eu achei que não veria de novo tão cedo. E ainda podemos conquistar o Bi Campeonato Mundial.

O que eu tenho a dizer de tudo isso?

Inter,
obrigado por ser um clube tão grande. Obrigado por tantas alegrias, e até mesmo pelas eventuais tristezas e decepções. Crescemos com elas e nos tornamos o maior time de futebol do mundo. Porque nós fomos Campeões Mundiais. Fizemos o mundo ver um time do Sul do Brasil. Pintamos a Terra de Vermelho. O que eu sinto por ti, é indescritível, porque toma conta de mim. Eu me arrepio quando escuto o Hino, quando vejo os filmes, os documentários, quando leio a história do clube, da determinação de um povo em fazer o seu time ser grande, quando ouço a história dos torcedores levarem tijolos para ajudar na construção do Gigante. Do Inter ser o Clube do Povo, sem preconceitos. Quando vejo o manto vermelho.

Enfim, esse sentimento não tem fim. Jamais.
Sou colorado, e com muito orgulho. Por ter passado por momentos difíceis, e nunca ter deixado de torcer ou defender o Inter. Somos um clube grande. Somos campeões de TUDO. E queremos sempre mais. Parte de mim é muito feliz por poder ter presenciado estas grandes conquistas do clube, por ter torcido até a voz se esgotar e eu passar a semana rouco. Por todos os amigos colorados que fiz ao longo dos anos.


...não importa o que digam, sempre levarei comigo, minha camisa vermelha...




quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Crise

Um papel. Canetas que não escrevem. Uma vida que não que sai de baixo das cobertas. O cheiro de mofo e a coloração escura das extremidades do quarto. Um abajur à meia luz. Amarelada. Roupas que pendem entre uma porta e outra do armário. Pensamentos que pendem; rolam em direção ao ralo escuro e úmido da inconsciência. Cigarro aceso entre os dedos amarelados. Reflexo da luz do abajur. Nenhuma tragada. Não há inspiração, só suspiro. Um copo marcado com lágrimas escurecidas; secas. Garrafa de vinho vazia. Duas garrafas. A boca e o nariz manchados. O cinzeiro povoado. Baganas e cinzas. Vento grave. O vidro gelado dança descompassado. A morte abafada de baixo das cobertas. Lápis sem ponta. Um papel manchado de sangue. Sangue sem vida.



Christian Pizzolatto

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Frágil

Você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Alparminium

Noite. Seus rastros estão no chão, por todo o caminho em que andou. O sangue marca com todo o seu vigor a calçada molhada e surrada da cidade. Noite. A vida está morta. Foguetes invadem o céu tão calmo. Eles estão chegando, ó céus. Sim, os demônios. Não vês o sangue? Alguém o observa escondido atrás de uma velha casa de madeira. O olfato pode ser uma sensação tão traiçoeira. A chuva parece querer voltar, mas é só o vento. Você está só, mas é observado. Um estrondo. Cavalos correndo por trás da cerca. A cidade ganha vida, mesmo morta. Metáforas, paródias, ilusões. Onde está você? Você está aí?

Quanto tempo levou para notar que existe um zíper no seu umbigo? Abra-o. Há uma mensagem. Cavalos correndo atrás da sua orelha. A calçada molhada. O mais puro rastro de sangue escorrendo dos seus cabelos. A faixa nunca mais será a mesma. Você achou.

O dia continua estranho, as vozes ocultas ainda habitam esses pensamentos confusos e incoerentes. Feche um pouco mais o casaco, assim quem sabe talvez não vejam. Quem sabe você consiga esconder de si mesmo, a argola cravada no seu estômago. Acho que a sua cabeça desgrudou por instantes do seu pescoço, e trouxe de volta a maturidade que precisavas. Lembrou daquela mentira?

Respire fundo, e vomite em todos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Hoje é dia de...

Hoje é dia de dor

De gritar
e gemer e acordar e passear
Como um quadrúpede
Pelo quarto a fora

Hoje é dia de chuva

De sorver
Um pedaço de pão velho
Recheado com espessa camada
De saborosos antiflamatórios
E mastigar...mastigar...
mastigar como um pedaço de sonho
Um sonho barato

De sentir
Os pingos da chuva
Queimarem minhas articulações

De ver
A vida necrosada
Instalar-se na pele recém-nascida

De observar
A linfa nutrir
Minha paixão desesperada
De manter-me vivo



Christian Pizzolatto

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Cinema de Wes Anderson

Da metade dos anos 90 para cá surgiu um cineasta incrível, cheio de idéias, e com características marcantes ao longo de seus filmes. Ao lado de outros grandes cineastas lançados no mundo do cinema nesta mesma época, como Paul Thomas Anderson e Quentin Tarantino: Wes Anderson.

Ele pode ser citado ao lado de Tarantino e de Paul Thomas, pois são três cineastas que definitivamente fizeram o chamado “Cinema de Autor” na década de 90 e adiante. Para se chegar a esta conclusão, basta pensar que se um filme de qualquer um dos três estiver passando na TV, você rapidamente saberá de qual dos três é o filme. Claro, isso quem já conhece os filmes deles e é familiarizado com as suas características. E até me arrisco um pouco mais. Acho que são estes diretores, os mais significativos em termos de criatividade no cinema americano dos anos 90 pra cá. Quer ver?

Cães de Aluguel – 1992 – Tarantino

Pulp Fiction – 1994 – Tarantino

Jogada de Risco – 1996 – Paul Thomas

Pura Adrenalina – 1996 – Wes Anderson

Jackie Brown – 1997 – Tarantino

Boogie Nights – 1997 – Paul Thomas

Três é Demais – 1998 – Wes Anderson

Magnólia – 1999 – Paul Thomas

Os Excêntricos Tenenbaums – 2001 – Wes Anderson

Embriagado de Amor – 2002 – Paul Thomas

Kill Bill – Vol 1 – 2003 – Tarantino

Kill Bill – Vol 2 – 2004 – Tarantino

A Vida Marinha de Steve Zissou – 2004 – Wes Anderson

Sangue Negro – 2007 – Paul Thomas

A Prova de Morte – 2007 – Tarantino

Viagem a Darjeeling – 2007 – Wes Anderson

Bastardos Inglórios – 2009 – Tarantino

O Fantástico Sr. Raposo – 2009 – Wes Anderson

*em negrito os filmes que eu considero obras-primas.


É impossível não reconhecer a importância que eles tiveram para o cinema em menos de 20 anos de atividade. E é nessa linha de raciocínio com que eu venho abordar resumidamente o cinema mágico, criativo e aconchegante de Wes Anderson.



Fica claro, desde “Pura Adrenalina”, que Wes Anderson respeita e ama o cinema. Acho que talvez essas duas características sejam das mais importantes para alguém realizar filmes. Ao meu ponto de vista, as idéias criativas dele se unem de alguma forma ao cinema clássico. A vontade de contar uma história, e contar ela da melhor forma possível, com todos os detalhes a que temos direito. Este filme que foi escrito juntamente com o amigo Owen Wilson, e interpretado pelo próprio Owen e pelo irmão Luke, talvez seja o mais simples de Anderson, mas já é possível notar claramente a sua característica de contar histórias.




A partir do próximo filme, “Três é Demais” (mais uma vez escrito com Owen Wilson), protagonizado por um Jason Schwartzman então com 18 anos de idade, já fica mais clara a maneira com que Anderson domina as posições de câmera a sua maneira. Técnica que ficará ainda mais marcante nos seus próximos três filmes. Além de ângulos de câmera diferenciados como característica, Anderson já coloca em prática a excelente trilha-sonora que acompanha seus filmes, e o uso de slowmotion em determinadas cenas. Vale lembrar que Anderson tinha apenas 29 anos quando fez este filme.


Em seguida, vêm o que eu chamo de “A Trinca de Ouro” de Wes Anderson: “Os Excêntricos Tenenbaums”,” A Vida Marinha de Steve Zissou”, e “ Viagem a Darjeeling”. Anderson chega ao ápice da criatividade. Vai a um patamar diferenciado, aonde deixa de ser um cineasta em ascensão, para tomar o seu lugar como um dos grandes diretores americanos do começo de século XXI. Com um elenco espetacular, Anderson transborda inspiração e faz uso de todas as suas características pessoais como realizador. Nos roteiros, parcerias com Noah Baumbach (A Lula e a Baleia), Roman Coppola (sim, filho do Coppola Pai), e com Owen Wilson.



No fim de 2009, é lançado o seu filme de animação, “O Fantástico Sr. Raposo”, baseado no livro de Roald Dahl, mesmo autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Talvez o seu projeto mais ambicioso, mas que é uma prova definitiva da qualidade de Anderson. A maioria das técnicas aplicadas em seus outros filmes, estão no Sr. Raposo.



Eu sei que os comentários sobre os filmes são breves, mas quando pensei em escrever este post, pensava exclusivamente sobre a maneira com que Anderson conduz belamente os seus filmes, e não em fazer críticas aos filmes em si. A percepção que eu tenho, é que Anderson faz os seus filmes com o máximo de cuidado possível. Deve ser um crítico de seu próprio trabalho, a ponto de eles chegarem a quase perfeição estética.


E Anderson, continue assim, pois eu fico feliz sempre que separo algumas horas do meu dia para entrar na sua mente excêntrica e me deliciar com o seu trabalho.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Cabelos Negros

Balance seus cabelos pela rua garota. Esse ar tão puro em um dia nublado. E lá vem você com os seus cabelos negros me cumprimentar. Acho que hoje fiquei com a sua alegria cravada em meus braços. Eles não querem fazer outra coisa a não ser te abraçar, e te apertar, e te dizer em sinais que você é maravilhosa. Como pode uma pessoa ser assim? Quer dizer, um humano ser assim?

Mas quanto a isso acho que nós podemos ficar tranquilos, eu e tu sabemos que a tua descendência é indefinida. Só não se sabe se é dos meus sonhos ou de uma parte remota do teu sorriso. Pois é. Eu tenho certeza que o teu sorriso esconde uma porção de pequenos planetas com habitantes tão lunáticos e puros como tu. Viajar é a principal diversão deles, então é por isso que o teu humor varia tanto. Eles não sabem mais por onde desbravar algumas regiões do teu corpo, então às vezes ficam entediados, o que te deixa de mau humor e sem saber o que fazer. Imagino também que todas as vezes que eles resolvem escorregar pelo teu cérebro, tu dá risada. Aquela risada que só tu sabe dar.

Pode-se notar essa tua façanha de outra forma também. É só conversar contigo um pouco pra descobrir que habitam em ti, diversas formas de vida. Coisa que tu passa em uma conversa sem nem ao menos ter vontade. Claro, porque o teu conhecimento todo é involuntário. A culpa é desses seres que habitam o teu corpo!


E lá vem tu balançando os teus cabelos negros outra vez.


Espero que neles não habite nenhum tipo de vida.


Porque, senão, seriam piolhos.


 
Ricardo Lubisco