quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Crise

Um papel. Canetas que não escrevem. Uma vida que não que sai de baixo das cobertas. O cheiro de mofo e a coloração escura das extremidades do quarto. Um abajur à meia luz. Amarelada. Roupas que pendem entre uma porta e outra do armário. Pensamentos que pendem; rolam em direção ao ralo escuro e úmido da inconsciência. Cigarro aceso entre os dedos amarelados. Reflexo da luz do abajur. Nenhuma tragada. Não há inspiração, só suspiro. Um copo marcado com lágrimas escurecidas; secas. Garrafa de vinho vazia. Duas garrafas. A boca e o nariz manchados. O cinzeiro povoado. Baganas e cinzas. Vento grave. O vidro gelado dança descompassado. A morte abafada de baixo das cobertas. Lápis sem ponta. Um papel manchado de sangue. Sangue sem vida.



Christian Pizzolatto

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