sexta-feira, 9 de julho de 2010

Senta que lá vem a história

Eu gosto muito de filmes. Quem me conhece sabe disso. Quando eu vejo um filme e ele me agrada muito, causa uma certa revolução dentro de mim. Provavelmente isso acontece com outras pessoas também, mas geralmente ninguém nunca fala sobre isso. A primeira coisa a responder quando alguém te pergunta sobre tal filme, é:

- Bah, é muito bom! Do caralho! Esse filme é demais! Vale a pena!
Ou:
- Putz, não curti! Ih, aquele filme é ruim! É uma merda! Chaaaato!

Claro. Existem situações e situações. Tem aquele filme pipoca que tu vai ver com os amigos, ou ainda aquele filme que tu assiste com namorada (o) pra passar um tempo junto com ela (e). Mas é diferente quando tu separa um tempo para assistir AQUELE filme. Aquele que tu queria ver já faz algum tempo, que tu conhece algum ator, algum diretor, tem referências variadas, etc.
Bom, esse texto todo era só pra contar um pouco da experiência que eu tive com três filmes recentes que assisti. O primeiro deles, O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella.



O meu interesse no filme era grande, já que ele ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2010, batendo A Fita Branca, filme de um dos meus diretores preferidos, Michael Haneke. E antes de ver o filme eu meio que tinha raiva dele. Como assim ganhar de um filme do Haneke? É brincandeira, né? E pensava que era mais uma daquelas coisas típicas de Oscar, na qual o vencedor nem sempre é um grande filme (vide casos muito recentes como Crash – No Limite, Quem Quer ser um Milionário e Guerra ao Terror. E a surpresa foi gigante. O Segredo de Seus Olhos é um filme que merecia vencer não apenas na categoria de filme estrangeiro, mas talvez na categoria principal de melhor filme. É infinitamente superior a Guerra ao Terror. A tão comentada cena em plano-seqüência é realmente incrível. Tem cerca de 6 minutos e quando ela terminou, eu revi e revi até cansar de tentar descobrir onde estavam os cortes escondidos. O Oscar já perdeu a credibilidade faz um tempo, então isso não quer dizer muita coisa. E as qualidades de um filme sempre superam o fato de ter ou não sido premiado. As injustiças em premiações cinematográficas já fazem parte da história do cinema. Além do que, filmes são pessoais. Certamente alguém não compartilha a mesma opinião que eu sobre este filme.

Partindo para onde quero chegar: o filme mexeu comigo. Deu partida em pensamentos incoerentes que viriam a se formar com as experiências a seguir. Passado, presente, futuro. Conectando-me diretamente com outro filme que assisti: Mr. Nobody, do belga Jaco Van Daormel.



Foi indicação de um amigo. E puta que pariu, que indicação. É um filme extremamente criativo do começo ao fim, em todos os momentos. Eu não consegui fazer muita coisa após assistir, me encontrava em um estado inerte, com o pensamento viajando por várias épocas da minha vida, dando um pulo em atalhos obscuros que o meu cérebro produzia. Tudo acompanhado pela trilha-sonora.



O meu corpo paralisado enquanto o meu cérebro viajava por lugares imaginários desconhecidos.

Antes de chegar ao terceiro filme, eu encontrei este vídeo, onde o Tom Waits lê um poema do Bukowski.

O que dizer? Hahaha. Ele. O velho fudido. O marginal. Escreveu isso. Com toda a alma que ele aparentava não ter. As poesias são de uma sensibilidade impressionante. É um dos meus escritores preferidos. Sempre vai ser. E o Tom Waits recitando. É bom demais.

E ontem assisti o Noites de Cabíria, do Fellini, lá na Casa de Cultura. Está tendo um ciclo especial de cinema italiano em função da reabertura da Sala Norberto Lubisco. Porra, vi o filme em película. A experiência do cinemão antigo. Aí o que acontece é meio mágico, quando o filme é tão bom quanto a experiência. O 8 ½ do Fellini tá no meu Top 5 de todos os tempos, e eu não esperava gostar tanto do Noites. Mas a qualidade de quem realiza o filme é tão grande que não tem como não tratar como Obra Prima. O final do filme me arrebentou. E ali estava eu, naquela salinha confortável de 52 lugares, com umas 15 pessoas, emocionado, com a certeza de lembrar para sempre daquela personagem baixinha, esperta e sorridente.



A sessão acabou. O ar gelado de inverno passeava pela Rua da Praia, enquanto eu caminhava pela calçada com os olhos marejados, sem ter qualquer idéia de como descrever o que eu sentia naquele momento.

Três filmes que me fizeram ter sensações extremamente diferentes, mas que são coisas que só o cinema pode proporcionar. Ainda há poucas coisas que sejam tão boas quanto comprar um ingresso, escolher um lugar para sentar, esperar as luzes se apagarem, e mergulhar para um lugar distante se deixando envolver por sentimentalismos ficcionais.

Mas se for pra parar e pensar um pouquinho, não tão ficcionais quanto aparentam.



* Mr Nobody me fez psicografar algumas frases e histórias um tempo após assistir ao filme. Uma hora elas irão aparecer aqui.

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