quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ah, é aquela sensação que você conhece

Tudo parece ter sentido! É estranho e normal ao mesmo tempo! Sua boca se mexe lentamente em slow motion e tudo está certo para mim. O som cada vez mais rápido e os movimentos cada vez mais lentos. Lá no meio da madrugada estamos nós e não há saída desse quarto. Por onde irá sair a fumaça? E se ela não sair? Bom, acho que ficaremos aqui, eu e você, esfumaçados e sorrindo por nada. O que temos a perder? Hahahaha! Ai minha cabeça, explodiu! Virou uma boca. Hahahah! Virou uma boca com um cigarro! Está falando com você e fumando! As paredes do quarto viraram monstros verdes e gosmentos. A gosma está inundando o quarto! Por que nós não estamos correndo pra algum lugar seguro? Bom, mas está tão bom aqui. Acho que aqui está tão seguro quanto qualquer outro lugar. Tem mais bebida aí? Traz algo pra gente comer então! Pode ser um pedaço de pizza! Mas não se esquece da bebida! Ah, que calor. Agora está melhor. To sentindo os meus dedos se mexendo involuntariamente. Deus, como eles gostam de passear pelo teu corpo. Todo ele. Eu amo o teu corpo! Tu viu que horas são? Como a gente conseguiu assunto pra tanto tempo, parece que começamos a conversar há uns dez minutos! Pois é, tá amanhecendo! Eu gosto dessa parte da manhã onde todo mundo ainda tá dormindo, dá uma sensação de que só a gente tá acordado. Uma sensação de que não existe mais ninguém e que a gente tá sozinho nesse mundão. Geralmente eu só sinto isso de noite, então é por isso que eu gosto dessa parte da manhã. É a única hora do dia que eu sinto isso. É porque o silêncio ainda toma conta da cidade. É sim! Tem café preto aí ainda? Tem? Vou fazer pra nós então! Ninguém me ensinou, não. Um dia eu fervi a água, misturei o café e tava pronto. Na real quando eu faço nunca me importo muito com o gosto do café, o importante é que eu tome café. É bom porque é caseiro, não tem aquele gosto de café de máquina! Sim, eu sei que o de máquina é bom, mas o caseiro é especial também, porque é a gente que faz. Eu que faço. Aí é bom. Eu sei fazer arroz também. Na verdade é a única coisa que eu aprendi a cozinhar até agora. Não, ovo não; eu me atrapalho. Olha! Olha ali na janela, rápido, tem um balão subindo pro céu. Ali ó, perto daquela antena do prédio, ele tá subindo rápido, olha. Pois é, laranjinha! Eu sempre achei laranja extravagante demais. Mais que laranja, acho que não tem não. Laranja é o ápice do extravagante. Tua pele é tão macia. É boa sim, para com isso. Eu gosto ué, isso que importa. Eu não me importo. Eu não me importo. Deu né? Vamos dormir. Tô ouvindo barulho de gente já! Eu não gosto de gente. Todo mundo gosta de sair na primeira hora da manhã e encher o saco. É que nem quando alguém não tem o que fazer e vai a alguma loja torrar a paciência de um cara que tá lá trabalhando em uma merda de emprego, só pra ganhar uma grana pra viver, e além de tudo, tem que atender esses idiotas que saem de casa a sei lá que horas da manhã, pra conversar e encher o saco de alguém. Feriados e domingos é a mesma coisa. Eu sei, mas isso me irrita. Se eu pudesse ficar em casa e ganhar dinheiro sem sair daqui eu não saía. Bom, talvez eu saísse sim. É eu sairia. Mas não torraria a paciência de ninguém. Acho que não. Tudo bem, a última. Vem, vem pra cá. Me abraça. Boa noite.

Ricardo Lubisco

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