segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pedras Epidêmicas

Tangenciando um pouco o clima cinematográfico, trago agora em forma de poema o resultado de duas frases que, em dois determinados momentos distintos, me fizeram refletir sobre um assunto muito corrente atualmente. A primeira frase corresponde a um comentário de um amigo meu sobre um outro amigo nosso: " Cara, eu olhei pros olhos dele, e parecia que ele não tinha alma". A outra frase corresponde a um novo escritor, cujo comentário me fez lembrar da frase desse meu amigo: " Nós estamos inseridos na história; fazemos parte dela; devemos contá-la de alguma forma". Esses dois comentários aparentemente sem conexão alguma, convergiram dentro de uma ideia que acabou resultando nas linhas abaixo.



Pedras Epidêmicas



Prospecto nos teus olhos

O tom cinza que escorre

Da tua alma que não me atende

Que não deixa penetrar

O mais raso ou mais profundo

enunciado


Inspeciono no teu corpo

Uma notícia de vida

Superficial, amarga,

que seja


Mas a morte encharca


Até o fio mais ruivo da tua barba branca

Até o anseio mais sedento da tua consciência

Do suor dos teus pés

À tosse que cospe

em pedras a euforia

abafada nos pulmões


Teus olhos rochosos

Teu corpo amargurado

Resfolegante

São cores de um quadro

Um quadro em tons cinzas

Cinzas de uma epidemia



Christian Pizzolatto


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