quarta-feira, 28 de julho de 2010

Filipe

Todo dia ás 6 da tarde Filipe enfia a cabeça na terra. Todos sempre perguntam o porquê, mas ele nunca soube responder. 6 da tarde, tiro e queda, Filipe enfia a cabeça embaixo da terra. Alguns o chamam de menino avestruz, outros preferem não falar nada por medo de retaliações dos parentes desconhecidos de Filipe, certamente, os Senhores Etês. Sua Mãe não briga mais quando o vê voltar pra casa com os olhos quase cobertos de terra, e algumas minhocas saindo de seu nariz.


Todo dia na hora do jantar na casa de Filipe, seus pais discutem. O baixo salário do Pai, o cabelo mal cortado da Mãe, a comida cara do maninho (o cachorro de Filipe), e o preço do aluguel que sobe todo ano. Filipe observa tudo com calma. Tudo que ele não precisa é dar mais um motivo para os pais brigarem.


- 6 da tarde.


Lá vai Filipe em direção ao buraco no jardim de seu quintal. Mergulha a cabeça na terra e grita o mais alto que pode. Pensa em todos os problemas discutidos pelos pais, na comida cara do maninho, na Juliana - sua amiguinha de brincadeiras - e como ele não gostaria de crescer e se tornar um adulto.


Filipe entrou em casa com a cabeça cheia de terra, só que dessa vez, a minhoca saía de sua orelha.




Ricardo Lubisco

2 comentários:

  1. Muito bom. Sensível. Ao invés do garoto soltar para o Mundo seus problemas como a maioria das criaças e até adultos fazem, ele prefere se isolar e tenta soltar eles.
    Abraços.

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  2. Paulo, obrigado pelo comentário. O lance do conto é mostrar o lado da criança em relação ao que ocorre frequentemente dentro de casa. Os pais discutindo, e na maioria das vezes, não imaginando o mal que causam para os filhos por estas pequenas coisas.

    Abraço!

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