Por que você insiste em querer me ver? Sabe que me incomoda essa situação.
Mas eu precisava te ver. Não pude controlar o impulso.
Pois trate de controlar. Sabe que tudo isso me deixa triste; me deixa triste, pois sabe que eu te amo (e isso me dói ainda mais); sabe que me dói a espinha, os braços, a ponta dos dedos; me arde a boca, os olhos, o peito, o estômago; esta dor me veste por completo, dilacera minha alma, e me faz lembrar. Lembrar de tudo, exatamente tudo. Os beijos, os abraços, os olhares, o primeiro olhar, o sexo, a vida cheia, cada instante com um proveito intenso. É claro que eu posso estar sendo um pouco piegas, afinal, não há coisa mais chata do que aquelas pessoas que embarcam num saudosismo eterno, de maneira a convencer que o tempo que elas viveram intensamente, sim, foi um tempo bom. Mas com certeza, este não é meu objetivo neste momento. Na verdade, não tenho objetivo nenhum, apenas quero que você vá embora e me deixe aqui.
Veja bem, não sou culpado por isso, mas sinto como se fosse. Recai sobre minhas costas toda culpa que tenho certeza que não tenho, como uma rocha, como um grande monstro que pisa no mais insignificante inseto. Sinto-me culpado porque passei contigo muitos desses momentos que você mesma descreve. Mas não entrarei em detalhes, pois...
Porque me interrompe? Não tem esse direito. Na verdade não tem direito algum sobre nada. Não há motivo para você estar aqui, então, por favor, vá embora e não me procure mais. Não venha jogar na minha cara sua vida imunda, e os momentos que passou comigo, pois pra mim, nada disso significou alguma coisa...
Quer saber, relaxe um pouco. Sente-se aqui na minha frente. Tire esse casaco, pode colocá-lo no braço da minha cadeira. Quer tomar um café? Não? Hm, está bem. Como você é bonito. Acho que em todos esses anos, nunca tinha reparado nisso. Vamos, tire a camisa. Tire! Tire as calças também, ostente sua vivacidade, exiba seu sexo patético, e me cubra com seu gozo, assim como antes, como sempre fez; concentre-se, concentre-se, faça-o deslizar por todo meu corpo, quase inanimado e parcialmente morto nesta cadeira; faça-o confundir-se com o calor que sai dos meus poros...
Um cuspe na cara...
Você não muda. Mesmo assim, você não muda.
Outra hora eu volto.
Christian Pizzolatto
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